Casa contêiner

Foto: Urban Space Management

Onde você imagina morar daqui a vinte anos? "Em um contêiner" seria a resposta de muitos profissionais da engenharia e arquitetura que consideram as grandes caixas transportadoras de carga um dos caminhos para aliar a construção civil à sustentabilidade.

Experimentos arquitetônicos com o reaproveitamento de contêineres marítimos foram consolidados nos Estados Unidos e Europa, em locais de intensa atividade portuária. Em 2001, a empresa britânica Urban Space Management desenvolveu o complexo Container City e abriu mão de tradicionais técnicas de construção para investir na estrutura leve e flexível dos compartimentos metálicos. Com financiamento do setor público e privado, foram construídos estúdios, casas de repouso, enfermarias, escritórios e moradias na zona portuária de Londres.

Um ano depois, a holandesa Tempohousing também recorreu a contêineres abandonados para projetar um conjunto habitacional de estudantes em Amsterdã. Para concluir a obra com a rapidez, a qualidade e o baixo custo demandados, a construção foi realizada na China e em 2006 mil casas estavam prontas.

A tendência de reduzir o grau de desperdício nas obras alastrou-se pelo mundo e tem alavancado o uso de contêineres no Brasil. O escritório catarinense de arquitetura Ferraro Habitat dedica parte de seus projetos para a concretização de casas contêineres. "A proximidade com o Porto de Itajaí e a problemática do descarte dos contêineres nos mostraram que este material seria o mais adequado para iniciarmos nossos trabalhos em arquitetura modular, compacta e de baixo impacto ambiental", explica a arquiteta Lívia Ferraro.

Segundo Lívia, num primeiro momento, o foco é o público de alto padrão, com o intuito de desmistificar a impossibilidade do uso de contêineres como moradia de qualidade. Experiências do governo brasileiro que criaram salas de aula e presídios em contêineres enfrentaram dificuldades, principalmente no que diz respeito ao conforto térmico. Na página seguinte, veja como os contêineres podem proporcionar um ambiente agradável.

Foto: Plínio Dondon

A questão térmica e acústica é um dos principais desafios na construção de uma casa contêiner, pois o material potencializa a temperatura ambiente, piorando as sensações de frio e calor. Para a realização do projeto Casa Container, residência em Granja Viana, distrito de Cotia, São Paulo, o arquiteto Danilo Corbas optou por duas soluções.

Uma é a utilização de telhas térmicas tipo sanduíche de poliuretano, que reflete os raios solares e ameniza as condições climáticas locais. Outra medida foi a lã PET da Trisoft, vencedora do prêmio Planeta Casa 2010 na categoria materiais de construção, um isolante térmico feito à base de garrafas PET hipoalergênica e 100% reciclável.

Corbas também aponta adversidades relacionadas aos reforços estruturais e desenvolvimento de algumas peças específicas que não se encontram prontas no mercado. "Outra dificuldade é trabalhar de forma satisfatória a movimentação da estrutura e aliar acabamentos adequados a essa característica dos contentores, para que não ocorram muitas trincas nas paredes e revestimentos", detalha.

A eficiência energética é outra preocupação em uma casa contêiner. Por isso, aquecimento solar, ventilação cruzada, telhado verde e lâmpadas LEDs e fluorescentes fazem parte do projeto de Danilo Corbas. O consumo de água também é economizado com o reuso de água da chuva, vasos sanitários e torneiras com limitadores de fluxo.

Foto: Tuca Reinés

Um dos projetos apresentados na Casa Cor 2011 aderiu à reutilização de contêineres. O espaço de 300 m² concebido pela arquiteta Brunete Fraccaroli tem diversos ambientes instalados nas estruturas de metal, adaptados para a criação de um projeto residencial.

Na estrutura central, o espaço de convívio reúne os três contêineres principais, interligados por uma cobertura de vidro, dando origem a uma varanda iluminada, que aproveita as aberturas e cruzamento de ar para ventilar o espaço.

No maior contêiner, de 12 metros de comprimento, um bar multiuso com uma grande bancada espelhada, iluminação com LED e pufes nas cores azul e verde-limão. A ambientação inclui ainda mesas e bancos de madeira certificada.

O contêiner-cozinha tem piso de pastilhas em tons azul, já as paredes são revestidas com degradês do azul ao verde. Outro destaque são as luminárias pendentes de design sustentável.